10 perguntas a Sandra Costa (Técnico Alumni)

A Técnico Alumni é uma plataforma que permite aos antigos estudantes do Instituto Superior Técnico reconectar, reviver e relembrar os seus tempos no Técnico através do acesso a uma rede de contactos com outros Alumni. É no contexto das atividades desta plataforma que surge a entrevista a Sandra Costa, ex-aluna do DEI, que hoje republicamos na íntegra.
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Sandra Costa, licenciou-se em Engenharia Informática e Computadores em 1994. É Secretária Geral e Presidente do Conselho Administrativo do Parlamento dos Açores desde 2006, foi Secretária Geral da Conferência das Regiões com Poder Legislativo da Europa (CALRE) em 2018, membro do grupo e-Democracy da CALRE durante 13 anos, Vereadora no Município da Horta com o pelouro da Organização e Modernização Administrativa no mandato de 2001 a 2005, Chefe da Divisão de Informática da Secretaria Regional da Agricultura e Pescas do Governo Regional dos Açores durante 8 anos e consultora externa da APTO - Administração dos Portos do Triângulo e do Grupo Central, S.A durante 4 anos.
- Porquê o Técnico?
Porque era uma escola reconhecida, e era (e continua a ser!) um orgulho. É uma garantia de boas oportunidades profissionais ser licenciada em Engenharia pelo Técnico.
- O que mais leva dos seus tempos de Técnico, nas aulas ou fora delas?
Não consigo diferenciar, ambas as coisas eram excelentes! Talvez porque o ambiente da LEIC (Licenciatura em Engenharia Informática e Computadores), por sermos, na altura, a primeira "fornada" do curso, era espetacular, tanto entre colegas como com os professores. Havia muita entreajuda e muita vontade que tudo corresse bem e que fossemos um curso de excelência. Isso era evidente por parte dos professores, e principalmente por parte dos nossos "patronos" (José Tribolet, João Pavão Martins, Amilcar Sernadas, Pedro Veiga, José Alves Marques). Hoje percebo melhor porquê, também eles tinham "a cabeça a prémio" por terem feito tanta pressão para se criar a LEIC e o Departamento de Informática no Técnico. Acho que o resultado superou, eles tinham ideias e práticas muito inovadoras! E nós ganhamos muito com isso.
- Qual foi a melhor parte do seu curso? E a mais desafiante?
A melhor parte foi, sem dúvida, ter sido um curso muito prático. Tínhamos uma grande carga de trabalhos e projetos mas isso deu-nos muita bagagem para o mundo do trabalho e para criarmos uma capacidade de adaptação e resiliência face a qualquer projeto ou contrariedade. A parte mais desafiante foi sem dúvida o projeto final de curso, no 5º ano. Estávamos em 1993, a internet era o que era, ou não era… e tinha de fazer uma implementação de um modelo baseado em Fuzzy Logic para detectar, nas imagens captadas numa linha de montagem de enchimento de garrafas de água, se essas estavam ou não bem cheias para serem aceites ou rejeitadas. Hoje parece trivial, na altura não era porque a visão artificial estava muito "verdinha" e não havia um github ou qualquer coisa do género para nos inspirarmos no código, tínhamos de procurar bibliografia, que também era escassa, e "partirmos nós a pedra" para implementar e afinar o modelo para ser "inteligente" e eficaz.
- Em que atividades extra-curriculares esteve envolvida?
Durante o curso, nos últimos 3 anos, fiz um estágio no INESC e outro no ITEC, o primeiro num projeto de uma rede bitbus da Intel, e o 2º em visão artificial. Fiz parte dum grupo de LEICianos que dava aulas/formação de informática, na RUMOS e FUNDETEC, essencialmente para termos fundos para a viagem de fim de curso. Além disso era viciada, desde o 1º ano, em fazer aulas de aeróbica e step e tinha a sorte de haver o KeepFit, um ginásio nas traseiras do Técnico que abria às 7h30 da manhã, o que facilitava muito para conjugar os horários das aulas e dos projetos que tínhamos entre mãos (que eram sempre muitos!).
- No Técnico, teve alguma figura inspiradora? Quem e porquê?
Os "patronos", que já referi, sempre! Cada um à sua maneira, com o seu estilo próprio, marcaram-me muito naquilo que sei e sou hoje. Eram inspiradores pelo que sabiam e pela forma como nos motivavam e como nos faziam sentir diferentes. Hoje, à distância e com o que já aprendi na vida, percebo que eles sabiam muito bem ser líderes e levarem-nos a alcançar o nosso melhor! Mas destacava também a professora Cristina Sernadas e, na altura, ainda apenas assistente, a professora Sofia Pinto. Acho que me lembro bem delas, não só pelo que ensinaram, mas porque em 5 anos foram tão poucas as mulheres (nem me lembro de mais nenhuma...) que nos deram aulas que isso por si só já era admirável e inspirador para uma miúda aspirante a Engenheira.
- Qual é a sua melhor recordação do Técnico?
A viagem de fim de curso! 15 dias na Venezuela com um grupo fantástico, de mais de 60 colegas. Éramos e ainda somos um grupo unido de colegas e amigos.
- Qual é o seu lugar preferido no Técnico e porquê?
Pode parecer "masoquismo" mas diria que a cave do CIIST, e depois a cave do edifício da LEIC. Porque me lembro sempre de, apesar das durezas dos projetos, das horas e muitas diretas que passávamos à volta do computador, haver um convívio e interajuda espetacular entre os colegas, fossem ou não do nosso grupo, além da "cereja no topo do bolo" que era o prazer e a satisfação que se tinha quando as coisas funcionavam, quando se resolvia um problema e quando terminávamos um projeto/trabalho!
- Pode falar-nos um pouco sobre o início do seu percurso profissional?
Foi muito diferente do que ambicionava! Quando estava a terminar o curso, e já com a fisgada de começar a trabalhar em Lisboa, a minha mãe adoeceu gravemente e apareceu uma oportunidade de trabalho na ilha do Faial, Açores, onde ela vivia, e onde eu nasci, e resolvi agarrá-la, até porque julguei que, infelizmente, seria por pouco tempo. Trabalhar no setor público estava no oposto do que eu idealizava, desde logo porque era tudo espartilhado e previsível do ponto de vista duma carreira técnica, e pagavam mal (ainda pagam!). Entrei como responsável da Informática da Secretaria Regional da Agricultura e Pescas, do Governo dos Açores, e foi um grande desafio para uma miúda de 23 anos acabadinha de se licenciar. Surpresa, para mim, foi que adorei! Foi um desafio, em 1994, chefiar a informática de um departamento governamental com quase 1000 funcionários, dispersos pelas 9 ilhas em quase 30 edifícios. Foi um pôr em prática do muito que tinha aprendido nos últimos 5 anos, mas principalmente porque percebi que tinha aprendido a aprender e a resolver problemas, com confiança, e essas foram as duas melhores ferramentas que tive na altura.
- Qual foi a decisão mais difícil que alguma vez teve de tomar?
Tive duas, ainda que muito relacionadas. Vir para os Açores, para o setor público, quando terminei a LEIC em 1994. Poucos anos depois, e perante a hipótese de sair do setor público, ter optado pela qualidade de vida nos Açores em detrimento de um percurso profissional no privado. Hoje tudo teria sido diferente com o teletrabalho.
- Quais têm sido os grandes desafios da sua carreira?
Manter-me atualizada simultaneamente nas áreas de gestão e nas áreas técnicas tem sido uma prioridade constante. Tenho investido bastante em formação, não apenas como complemento e uma mais-valia para as minhas funções na gestão pública, mas também para garantir que mantenho competências e conhecimentos atualizados na área técnica. Isto é particularmente importante, caso em algum momento deseje ou precise de regressar à minha carreira técnica. Infelizmente, a gestão na administração pública ainda não é considerada uma carreira formal, e por isso, assumir funções nesta área nunca é, exclusivamente, uma escolha pessoal. Por sorte, as minhas áreas técnicas de eleição, julgo que devido à formação base e à dispersão geográfica com que sempre trabalhei, sempre foram as redes e os sistemas de suporte ao trabalho em mobilidade, e tudo o que daí advém, pelo que foi sendo fácil apostar em especializações técnicas nessas áreas. Recentemente, e já "farta" de formações técnicas, e tirando partido da minha experiência na área jurídica, sempre muito presente no setor público, e em particular, no parlamento, resolvi mudar o foco e frequentar uma pós-graduação na área do Direito Digital, o que sendo fora da minha "área de conforto", tem sido desafiante! Surpreendentemente também tem sido apaixonante e gratificante, pois tem sido vantajoso ter o conhecimento técnico (p.ex em cibersegurança, identidade digital, criptografia, blockchain, finanças descentralizadas, inteligência artificial, bases de dados, etc) para perceber (e às vezes criticar!) as opções legislativas e regulamentares atualmente existentes, nacionais e europeias. Mas também tem sido uma grande aprendizagem sobre o "juridiquês" e reconheço que a engenharia e o direito tem cada vez mais de andar "bem relacionadas" e de "mãos dadas" neste complexo ambiente regulatório que temos da Europa, e num desafiante novo mundo digital.
(imagem: Sandra Costa)