10 perguntas a Pedro Afonso (Técnico Alumni)

A Técnico Alumni é uma plataforma que permite aos antigos estudantes do Instituto Superior Técnico reconectar, reviver e relembrar os seus tempos no Técnico através do acesso a uma rede de contactos com outros Alumni. É no contexto das atividades desta plataforma que surge a entrevista a Pedro Afonso, ex-aluno do DEI, que hoje republicamos na íntegra.

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O Pedro Afonso é Presidente Executivo (CEO) da VINCI Energies em Portugal, grupo que detém as marcas Actemium, Axians, Sotécnica, Longo Plano, Omexom e VINCI Facilities. É membro do Conselho Estratégico para a Economia Digital da Confederação Industrial Portuguesa. Até 2017 desenvolveu a sua carreira em várias empresas do grupo Novabase, onde foi membro da comissão executiva. É também Vice-Presidente do Programa VINCI para a Cidadania.

O seu trabalho levou-o a lançar o #movimentogivinback, que tem tido como objetivo a partilha dos grandes desafios na área do desenvolvimento da liderança. Foi também membro signatário do movimento Marcas por Portugal, por acreditar que é possível desenvolver um país com mais valor, através da diferenciação, da inovação, e de marcas.

Fez formação em Gestão na Universidade Católica – Advanced Management Program – e na Universidade de Stanford – Entrepreneurship for Venture Capital. No Técnico, fez Engenharia Informática e de Computadores.

  • Porquê o Técnico?

O Técnico foi uma escolha clara e inequívoca: talvez porque no ecossistema de amigos que conhecia na comunidade de antigos alunos do Colégio Militar – de onde também sou Antigo Aluno – o Técnico era – e é – a escola de referência da engenharia em Portugal. Via-se perfeitamente nos índices de empregabilidade, já em 1994, sobretudo naquela que foi a minha escolha, a Engenharia Informática e de Computadores.

  • Pode falar-nos um pouco dos seus estudos no Técnico?

O curso foi muito intenso. Muitos projetos em várias disciplinas, levavam a que, por vezes, ainda sem condições de trabalhar de casa, fosse necessário passar muitas horas nas chamadas “catacumbas” - caves com terminais – onde podíamos desenvolver os projetos. Para além das matérias em formato teórico, a LEIC era um curso muito prático, precisando de bastante tempo dedicado. Funcionava com uma simulação – por vezes bastante “esticada” – do que poderíamos encontrar na vida profissional, em ambiente de projecto. 

  • Como foi estudar no Técnico?

Senti que éramos literalmente “atirados à piscina”, e era necessário trabalharmos pela nossa iniciativa para a concretização. Penso que era formativo, e preparava duas coisas fundamentais na nossa vida profissional: o espírito de iniciativa e aprendermos a criar a nossa autonomia profissional.

  • O que mais leva dos seus tempos de Técnico, nas aulas ou fora delas?

O Técnico prepara muito bem os alunos para resolver problemas e para pensar de forma sistémica. São características que utilizamos e qualquer profissão que possamos vir a ter.

  • Qual foi a melhor parte do seu curso? E a mais desafiante?

A melhor parte do meu curso, aconteceu no dia em que a primeira proposta de trabalho aconteceu, sem estar à espera e sem ter procurado. Confirmou-se, nesse dia, aquilo que se dizia: perto do fim do curso, são as empresas que vão atrás de nós, e não o contrário. Confirmo: naquela altura foi assim comigo; e hoje é assim comigo mas como empregador… confirma-se tudo 😊! A parte mais desafiante? A Análise Matemática III.

  • No Técnico, teve alguma figura inspiradora? Quem e porquê?

Invoco o Professor José Tribolet. Liderou um conjunto de projectos no contexto daquele núcleo científico, que gerou imensas oportunidades para uma geração. Penso que lhe devemos essa homenagem – já feita no momento da sua jubilação. Fica para a história do país a criação do INESC, o nascimento do Departamento de Engenharia Informática no Técnico… e fica para a história a abordagem – fora de programa claro – do impacto que iríamos ter como estudantes do Técnico de Engenharia Informática, em Portugal e no mundo. Se fosse preciso, falava-se de política – e o que ela não fazia pela sociedade – nas aulas de Arquitectura de Computadores. Estava tudo muito relacionado. Nós aprendemos ciências da computação, para transformar as organizações no mundo, mas o mundo nem sempre entendia o poder que podia ter, usando bem este conhecimento.

  • Qual é a sua melhor recordação do Técnico?

Lembro-me do primeiro contacto com empresas, nas feiras de emprego que se realizavam, mas que eram muito tímidas face às de hoje. Foi aqui que consolidei a ideia de fazer carreira nas empresas, em vez de fazer uma carreira em entidades públicas. Talvez um dia, noutro contexto, esta ideia mude. Para já mantém-se.

  • Qual é o seu lugar preferido no Técnico e porquê?

Talvez o Pavilhão Central. Não pela sua usabilidade, mas pela história que representa ao longo de mais de 1 século a formar engenheiros e engenheiras que todos os dias transformam ciência em produtos e serviços úteis às pessoas, ajudando a sociedade a ser mais feliz. Mas também o bar de Civil – não sei se ainda se chama assim – que era o ponto de encontro com os amigos.

  • Pode falar-nos um pouco sobre o início do seu percurso profissional?

Foi interessante. Começou com um trabalho de verão numa empresa do contexto do INESC – a Octal, Engenharia de Sistemas, S.A. Houve uma escolha deliberada de ir para uma empresa com espírito empreendedor, onde cada pessoa não fosse apenas mais um número. Havia imensa procura – como hoje – das grandes empresas da altura, mas o foco no cuidado com as pessoas não tinha o ênfase que existe hoje. Essa ideia, norteou de alguma maneira os projetos empresariais que fomos desenvolvendo: o de manter – sempre – um espírito empreendedor de desenvolvimento, combinando com boas práticas de gestão e governance, de maneira a atrair os melhores, e que queiram trabalhar como equipa.

  • Fale-nos um pouco sobre o trabalho que está a desenvolver atualmente.

Sou CEO da VINCI Energies Portugal, que detém a Axians – transformação digital - e as marcas Actemium, Sotécnica, Longo Plano, Omexom e VINCI Facilties – para a transição energética. Somos mais de 2000 pessoas, em Portugal e nos vários países onde entregamos projetos, como Reino Unido, Angola, Luxemburgo, Moçambique, Qatar, Gana, Zâmbia. 

  • Qual foi a decisão mais difícil que alguma vez teve de tomar? 

Numa das empresas por onde passei, descontinuamos uma atividade específica que nos obrigou a despedir 300 pessoas em 2 meses. Foi emocionalmente muito duro!

  • Como é que entrou na área profissional em que está agora?

Foi um caminho natural. A relação com os clientes e a liderança de equipas conduziu a este caminho da gestão de empresas. Comecei a desempenhar papéis de administração aos 31 anos, e foi até hoje.

  • Quais têm sido os grandes desafios da sua carreira?

As mudanças de contexto acionista são sempre um desafio para qualquer gestor. A maior necessidade para garantir um projeto empresarial de sucesso, é assegurar a consistência do desenvolvimento, confiança e visão das várias equipas com quem tenho o privilégio de trabalhar. 

  • Atualmente, como é um dia típico para si?

Hoje, muito mais planeado do que há uns anos atrás. Estamos em Outubro, e a agenda de 2023, está 50% completa. É muito mais eficiente, para nós, e para os que connosco trabalham.

  • Quais são os seus planos para o futuro?

Gosto muito da ideia de ajudar a melhorar Portugal. Por isso, desenvolver um projeto que cresce no país, e que se internacionaliza a partir de Portugal, é um enorme desígnio, e tem um sentido de propósito muito grande. É talvez a forma de devolver ao país o que ele me deu: recebi educação de excelência em instituições portuguesas – Colégio Militar, Técnico, Católica – e isso permitiu-me fazer o caminho com ferramentas únicas. 

  • O que o faz ter orgulho em ser um alumnus do Técnico?

A qualidade dos alunos que saem do Técnico e que podemos pôr a produzir para o país logo de seguida. A Axians é a empresa do nosso grupo que mais contrata no Técnico, e somos testemunhas, como empregador, das competências dos alunos.

  • Que conselhos daria aos estudantes atuais?

Têm uma enorme responsabilidade em ser alunos do Técnico: estão numa escola de referência de engenharia em rankings internacionais, que os está a formar. Era bom que pudessem dar todas as hipóteses de ficarem em Portugal, porque o país precisa deles nos mais variados domínios. Há também um trabalho a fazer do lado das empresas, mas penso que estas estão conscientes do que caminho a trilhar.

  • Que conselhos daria às raparigas que estão a pensar em estudar STEM, particularmente no Técnico?

Por experiência de casa, dou este conselho número 1: não fujam da matemática. Ao longo da carreira trabalhei com Mulheres que provaram sempre que é possível chegar longe pela sua competência. Na equipa executiva do grupo tenho duas colegas Engenheiras que me dizem que é necessário competência e atitude. Mas sabemos que este tema não funciona assim em todas as empresas.

  • Que conselhos daria aos estudantes do ensino secundário que estão a pensar em estudar STEM, particularmente no Técnico?

É uma excelente escola. Procurem a oportunidade de estudar no Técnico.

  • De que mais se orgulha na sua vida?  

Dos meus 3 filhos. Em 20 meses tivemos 3 filhos. Ver o caminho deles enquanto pessoas, das suas descobertas e de os ver crescer é um verdadeiro orgulho.

  • Tem uma citação ou frase favorita? 

Tenho várias, mas deixo esta: “Great things in business are never done by one person; They’re done by a team of people”, Steve Jobs.

(imagem original: VINCI Energies)

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