10 perguntas a Marta Teixeira (Técnico Alumni)

A Técnico Alumni é uma plataforma que permite aos antigos estudantes do Instituto Superior Técnico reconectar, reviver e relembrar os seus tempos no Técnico através do acesso a uma rede de contactos com outros Alumni. É no contexto das atividades desta plataforma que surge a entrevista a Marta Teixeira, ex-aluna do DEI, que hoje republicamos na íntegra.
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Marta Teixeira nasceu e cresceu em Lisboa mas os momentos mais marcantes da sua infância foram passados na terra dos seus pais, em Rendo, junto à Serra da Estrela, onde o contacto com o campo lhe trouxe vivências únicas e singulares face à vida na grande cidade. Concluiu o mestrado (pós Bolonha) em Engenharia Informática e de Computadores, no Técnico, em 2012, e desde aí esteve ligada ao desenvolvimento de software. Primeiro, no domínio do planeamento da ferrovia e nos últimos 5 anos na área do comércio eletrónico.
- Porquê o Técnico?
Durante o secundário, onde frequentei a Escola Técnica de Emídio Navarro em Almada, fui visitar o departamento de informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia no Monte da Caparica. Falaram tanto do Técnico nessa visita que me despertou a curiosidade e desde esse dia que escolhi o Técnico e o curso.
- Como mulher, como foi estudar no Técnico?
Primeiro, foi chegar a um anfiteatro cheio de homens e ser uma de seis entre trezentos caloiros no curso. Também foi ter sempre casas de banho vagas e limpas no departamento. Para além disso nunca me senti diferente nem especial e sempre fui tratada de maneira igual e com respeito tanto por colegas como por professores. Agradeço muito a todos por assim ter sido e espero que outras mulheres possam sentir o mesmo.
- O que mais leva dos seus tempos de Técnico, nas aulas ou fora delas?
Resiliência, coragem e superação. A transição do secundário para o Técnico não foi uma adaptação fácil. E eu não tive de deixar o conforto de casa como tantos colegas de curso. A determinada altura dizíamos que o difícil não tinha sido entrar no Técnico mas sim sair com um diploma na mão. Depois de tudo passado percebo que não há impossíveis e que somos todos humanos a passar pelo Técnico. O conjunto dos momentos mais ou menos difíceis, mais ou menos felizes são o mote para a vida profissional e pessoal que vem a seguir e um dos melhores sentimentos foi achar o trabalho mais fácil e menos exigente do que a faculdade.
- No Técnico, teve alguma figura inspiradora? Quem e porquê?
E quem passou pelo Técnico sem figuras inspiradoras? No imediato lembro-me da Professora Ana Cachopo nas aulas práticas da primeira cadeira de programação. Há tantos princípios do que me ensinou que ainda hoje aplico. Depois não podia deixar de referir o Professor David Martins de Matos que lecionou diferentes cadeiras e que me faz ser uma profissional mais rigorosa e exigente comigo própria e que me fez entender também que podemos falhar. Só não podemos deixar que as falhas se transformem em fracassos. Ainda na vertente de professores, tenho de referir o Professor João Cachopo que me guiou na escrita da minha dissertação de mestrado e que me deu a conhecer o livro Bugs in Writing que ainda hoje consulto e partilho com pessoas à minha volta. Por fim, recordo o meu colega de curso Rui Batista que passou por todo o percurso do Técnico na condição de invisual e hoje é um engenheiro informático bem sucedido. Talvez ele não saiba a inspiração que foi e é para mim.
- Qual é a sua melhor recordação do Técnico?
Muitas são as recordações do Técnico. Sem dúvida que foram tempos marcantes. A melhor das recordações? A primeira semana: a semana das praxes! Conheci, não só os colegas do meu ano, como outros colegas de curso com os quais mantenho amizade até hoje. E as tarefas que nos prepararam para esses dias ficam na memória pois criaram uma ligação forte às pessoas e ao Técnico, bem como as letras das músicas que cantávamos e que tantas vezes continuam a ecoar e a dar força ao longo dos anos. A título de exemplo: “Não deixes de tentar, caloiro tu tens de aprender que a vida de estudante também é saber sofrer. Vais ver darás valor àquilo que te custa a ter…”
- Pode falar-nos um pouco sobre o início do seu percurso profissional?
Nos meses finais do curso comecei a procurar trabalho e acabei por passar um dia numa consultora. Detestei! O ambiente, a roupa, o tipo de tarefas, o horário. Não podemos gostar todos do mesmo e apesar de saber da importância que podia ter no meu currículo, também sabia que não tinha andado no Técnico para ser menos feliz profissionalmente.
Assim, demorei mais algum tempo a começar, mas acabei por encontrar uma empresa de produto focada na ferrovia. Sempre adorei andar de comboio e de metro e eram meios de transporte que usava diariamente desde pequena. Poder juntar a informática a este domínio motivou-me imenso e apesar duma linguagem de programação mais antiga e invulgar na indústria, mantive-me nesta área durante 6 anos.
- Fale-nos um pouco sobre o trabalho que está a desenvolver atualmente.
Atualmente trabalho em comércio eletrónico para uma empresa Americana. A mudança mais radical foi começar a trabalhar totalmente em Inglês e com tecnologia de ponta. Lido com produtos das mais diversas categorias e com centenas de propriedades. Imaginem guardar dados das tabelas nutricionais e poder comparar diferentes produtos, por exemplo.
Mais do que um domínio desafiante, tenho ainda uma equipa dos quatro cantos do mundo em 3 ou 4 timezones diferentes e com experiências académicas bem diversificadas que incluem até o IMT. E claro que troquei um escritório em Lisboa diariamente pela tranquilidade do trabalho remoto com algumas idas ao escritório para o convívio e troca de ideias necessários.
- O que a faz ter orgulho em ser alumna do Técnico?
O orgulho no Técnico é algo difícil de explicar mas que se sente. O Técnico dá importância aos seus alunos e aos seus alumni. É sempre com muito gosto que volto ao contacto com o Técnico, a maior parte das vezes para encontros com atuais finalistas partilhando a minha experiência no Técnico. Quando encontro outros alumni do Técnico dou conta de uma partilha de valores e brio profissional e se há algo que nenhum alumni esquece é o seu número de aluno do Técnico.
- Que conselhos daria aos estudantes atuais?
“Dirás: mãe eu sou estudante… ái caloiro que vais penar” apregoei ao ritmo de música nas minhas praxes. E sim, não posso dizer que o Técnico tenha sido fácil mas posso dizer que foi a minha melhor experiência de educação e que me deu as melhores bases para a minha vida profissional. Aos atuais estudantes, aproveitem tudo o que o Técnico vos dá e força porque deste lado digo-vos que no final tudo valerá a pena se fizerem o que gostarem. O mundo do trabalho exige dedicação e trabalho em equipa mas não é mais difícil do que o Técnico.
- Tem uma citação ou frase favorita?
Vive sempre de modo a que a tua presença não seja notada mas que a tua falta seja sentida.
(imagem original: Marta Teixeira)