10 perguntas a João Pombinho (Técnico Alumni)

A Técnico Alumni é uma plataforma que permite aos antigos estudantes do Instituto Superior Técnico reconectar, reviver e relembrar os seus tempos no Técnico através do acesso a uma rede de contactos com outros Alumni. É no contexto das atividades desta plataforma que surge a entrevista a João Pombinho, ex-aluno do DEI, que hoje republicamos na íntegra.
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João Marques Pombinho, 41 anos, licenciou-se em Engenharia Informática e de Computadores em 2005, tendo concluído o mestrado em 2008 e finalmente o doutoramento em 2015, sempre no Técnico. Esteve sempre ligado ao setor das Telecomunicações, inicialmente na Portugal Telecom, depois ZON Multimedia e atualmente na NOS. Ao longo da carreira percorreu áreas como Planeamento Estratégico de Tecnologia, IT Demand Management, Arquitetura e Produto TV, Transformação Digital e atualmente é Head of Enterprise Architecture.
É natural de Évora, pai de duas filhas e reside atualmente em Lisboa mas com uma quota significativa da atividade profissional em cenários internacionais. Complementarmente à esfera profissional, é apaixonado por desporto e desafios de triatlo, trail e ciclismo de ultra-endurance, tendo sido o 1º Português a participar a solo (e concluir) a Race Across America.
- Porquê o Técnico?
Tratou-se de uma escolha bastante evidente para um bom aluno na fase final do ensino secundário e com orientação científica e tecnológica - nasci e cresci num meio ligado à atividade empresarial em micro-informática e desde muito cedo me dediquei às suas diversas vertentes. Tinha gosto e apetência por uma série de áreas e conquistado liberdade de escolha mas, dado o contexto e o facto de o Técnico ser a referência nacional em Engenharia, teria sido preciso um cenário muito particular para me levar a tomar outra opção.
- Pode falar-nos um pouco dos seus estudos no Técnico?
Estive sempre ligado à área de Engenharia Informática e de Computadores, inicialmente LEIC, depois MEIC e por fim DEIC, frequentando no percurso os campi Alameda e TagusPark. Tendo sido o último ano nestes vários graus em regime pré-Bolonha e iniciado atividade profissional a full time ainda durante o último ano da licenciatura, comprei o bilhete para um percurso em paralelo que requereu reservas de energias adicionais mas se revelou muito recompensador e do qual acabei por retirar sinergias entre as realidades académica e profissional. Tive também o privilégio de apresentar e discutir resultados de investigação a variadas audiências internacionais da comunidade direta e adjacentes em vários países, e ainda o de lecionar na LEIC, POSI e SISE, que considero experiências bastante enriquecedoras.
- Como foi estudar no Técnico?
Para além da experiência pessoal de deixar a terra natal e viver sozinho em Lisboa, com o necessário amadurecimento que isso implica, tinha uma grande expectativa sobre o próprio Técnico - e, de facto, acabou por ser um nivelar por cima a vários níveis. Não apenas pelos conteúdos e manuais, alguns dos quais verdadeiramente apaixonantes, como pelo grau de dificuldade "imposto", por vezes onde era menos óbvio: a experiência de aprendizagem e avaliação era especialmente desafiante, por vezes no limite, e por isso uma séria preparação para a vida profissional.
- No Técnico, teve alguma figura inspiradora? Quem e porquê?
Houve várias, mas destaco sem hesitar o Professor Tribolet, que acabou por ser o meu orientador nos 3 graus de formação, pela visão empreendedora e enorme contribuição dentro e fora da esfera académica. Marcou a diferença no 2º ano de curso, chegado da Sloan School of Management e imprimiu uma dinâmica à cadeira baseada em casos de estudo, alta disponibilidade fora do horário letivo e, não resisto, recebendo-nos na primeira aula com uma caixa de placas impressas com os nomes e números, que cada um colocava ao pescoço à entrada para a aula. Num auditório enorme, daqueles antigos, em madeira, o podermos ser chamados pelo nome a qualquer momento a dar a opinião sobre o caso da semana em qualquer ponto da discussão claramente subiu o nível de jogo e preparação. Inesquecível.
- Qual é a sua melhor recordação do Técnico?
São inúmeras: o contacto inicial, a secção de folhas, os momentos de estudo, os bons amigos que trago até hoje, os incontornáveis arraiais, as noitadas de projetos na RNL e os exames e discussões de tese. Destaco o Dia do Técnico, quando recebi o diploma de doutoramento e que foi especialmente marcante. Ter um filho a estudar longe de casa é desafiante em vários aspectos e foi, também por isso, um momento muito especial poder ter os meus pais presentes nesse momento e poder sentir o seu orgulho no fim de um ciclo.
- Fale-nos um pouco sobre o trabalho que está a desenvolver atualmente.
Trabalho na área de Arquitetura Empresarial que, um pouco como o planeamento urbanístico está para as cidades, se centra na visão do todo e de como fazer funcionar múltiplas perspetivas, objetivos e cadeias de valor, neste caso das organizações e dos ecossistemas em que operam, entregando valor de forma conjunta e sustentável. A combinação entre o conhecimento sobre domínios tecnológicos, por um lado, e a criação e utilização de modelos de negócio e redes de valor, por outro, é fundamental para perseguir este objetivo. É à volta desta dualidade que contribuo quer diretamente na NOS quer em grupos de trabalho internacionais. A evolução dos ecossistemas de negócio e a transição TelCo - TechCo, em conjunto com o amadurecimento da transformação digital e inteligência artificial aumentam cada vez mais a crença de que a aposta forte de há 20 anos e à volta da qual alicercei a atividade académica e profissional se revelou acertada.
- Que conselhos daria aos estudantes atuais?
Que vejam para além do imediatismo e não encarem as experiências académicas e profissionais como "badges" para colecionar. Apesar de o (cada vez mais) curto prazo ser uma marca dos nossos tempos, como quase sempre, a virtude está num mix equilibrado e na variedade de experiências que dotam de verdadeira versatilidade e capacidade de causar impacto. Assim, mais do que nunca, é de dar força à ideia de que há mérito e valor em fazer escolhas por caminhos mais difíceis, e apostar forte também nos horizontes de médio e longo prazo. Go deep!
- Que conselhos daria aos estudantes do ensino secundário que estão a pensar em estudar STEM, particularmente no Técnico?
Havendo naturalmente espaço para as restantes áreas académicas, é provavelmente em STEM que encontram aquelas que, de uma forma ou de outra, mais marcarão a evolução da sociedade - seja isoladamente ou, cada vez mais, em conjunto com as restantes. Compreender os fundamentos, metodologia e forma de pensar subjacente a STEM é um valor acrescentado que se poderá revelar inestimável. Não procurem mais, o melhor conjunto de ferramentas para endereçar os "sistemas de sistemas" que suportarão a nossa sociedade nos próximos anos está aqui.
- De que mais se orgulha na sua vida?
Das pessoas e relações que constituem o meu contexto nesta fase da vida. A decisão de não deixar o país rumo a cenários profissionalmente mais atrativos custou-me em vários momentos mas tornou - no meu caso - possível conciliar o desenvolvimento profissional e intelectual com a construção de uma família, num equilíbrio saudável entre vida profissional, académica, desportiva e, sobretudo, pessoal. Dito isto, orgulho-me particularmente de poder ser um exemplo para as minhas filhas e recordo com afeto um episódio na altura em que dei aulas de licenciatura: o dia em que as levei ainda pequenas para um horário de dúvidas e que acabou por ser uma visita guiada ao Campus da Alameda, um mundo diferente visto a partir dos 5 e 6 anos de idade, que as fascinou e despertou curiosidade. Quem sabe temos Engenheiras a caminho? :-)
- Tem uma citação ou frase favorita?
'Life's too short not to' - é o lema que acabei por criar como pano de fundo para o percurso de ultra-endurance e que acaba por refletir a minha forma de estar na vida. Somos definidos pelos desafios que escolhemos para o nosso percurso, alargando os limites e o que consideramos a nossa zona de conforto. Não esperar pelas condições perfeitas, arriscar e aprender - sempre aprender.
(imagem original: João Pombinho)