10 perguntas a Carolina Bento (Técnico Alumni)

A Técnico Alumni é uma plataforma que permite aos antigos estudantes do Instituto Superior Técnico reconectar, reviver e relembrar os seus tempos no Técnico através do acesso a uma rede de contactos com outros Alumni. É no contexto das atividades desta plataforma que surge a entrevista a Carolina Bento, ex-aluna do DEI, que hoje republicamos na íntegra.
Para saber mais sobre a Técnico Alumni e aderir à rede, clicar AQUI.
—
Carolina fez o percurso universitário no Técnico, licenciatura e mestrado em Engenharia Informática (Bolonha), em 2010. O plano original era uma carreira académica focada na análise de redes sociais e Big Data, mas depois de um estágio de investigação no National Institute of Informatics em Tóquio, Japão, a Portuguesa-Americana regressou a Lisboa, completou o primeiro ano do Doutoramento em Engenharia Informática e fez restart, começando uma nova carreira em Silicon Valley, onde vive há mais de 10 anos. Sempre na área de Data Analytics, trabalhou em plataformas de música com a Pandora Media (parte da SiriusMX), em hardware enquanto manager da equipa de Product Analytics da eero (adquirida pela Amazon), fez a sua própria startup, e hoje lidera uma equipa de Data Analytics na CloudTrucks, uma empresa de software para empreendedores do sector do transporte e logística. O gosto por problemas difíceis e não-óbvios desenvolveu-se no Técnico, e essa tem sido a base da sua carreira.
- Pode falar-nos um pouco dos seus estudos no Técnico?
Comecei por tirar a Licenciatura em Engenharia Informática (Bolonha). Mais tarde, durante o Mestrado interessei-me por análise de redes sociais e Big Data, quando ainda não se falava muito em Data Science e Data Analytics, então o Doutoramento foi como uma progressão natural para mim. Um ano depois, após ter completado o diploma curricular, que não queria deixar a meio, abandonei o Doutoramento para começar uma carreira em Silicon Valley.
- Como mulher, como foi estudar no Técnico?
Pessoalmente não foi um grande choque em termos de ambiente, porque no ensino secundário tinha-me focado na área de Matemática e Física, o que por si já tinha menor número de mulheres. Embora os números, na altura, deixassem as mulheres em clara desvantagem, sempre senti um espírito de camaradagem forte de todos com quem convivi e, particularmente com as outras, poucas colegas do curso. Foi desafiante ter de aprender a gerir o meu tempo, a minha energia, e conjugar todas as exigências do curso. Houve altos e baixos, mas trouxeram aprendizagens que moldaram a minha ética de trabalho e a minha atitude pessoal.
- O que mais leva dos seus tempos de Técnico, nas aulas ou fora delas?
No Técnico tive de desenvolver, por tentativa e erro, a capacidade de partir os problemas e de ter uma abordagem estruturada para tudo o que precisava de fazer. A capacidade de gerir toda a informação que recebíamos nas aulas e conjugar com momentos de estudo independentes e projetos. Sem dúvida que é uma das ferramentas que uso diariamente, quer na vida profissional, como na pessoal.
- Qual é o seu lugar preferido no Técnico e porquê?
Estudei sempre no TagusPark e costumava chegar bastante cedo para não apanhar trânsito. Muitas vezes sentava-me de manhã, num dos bancos em frente à fachada de vidro na ala Oeste, e apreciava o sol da manhã. De verão ou inverno, tinha uma luz especial.
- Pode falar-nos um pouco sobre o início do seu percurso profissional?
O meu foco sempre foi em Data Analytics e sabia que o epicentro das startups era em Silicon Valley. Sendo Portuguesa e Americana, cresci entre as duas culturas e tive sempre uma ideia de que a minha vida ia passar pelos USA, embora não soubesse bem onde. Como gosto de desafios e da possibilidade de começar tudo do zero, mudar-me para os USA foi uma decisão que surgiu naturalmente. Comecei por ser contribuidor individual, em equipas de Data Analytics, a absorver todas as experiências e a desenvolver as minhas skills técnicas. Desde o início de carreira e até hoje, a motivação é estar em ambientes em que as pessoas são apreciadas e apoiadas pelas suas capacidades, e onde há a possibilidade regular de ir aumentando os nossos horizontes.
- Fale-nos um pouco sobre o trabalho que está a desenvolver atualmente.
Presentemente sou manager da equipa de Data Analytics da CloudTrucks, gerindo um grupo de Data Analysts e Data Engineers. A CloudTrucks desenvolve software para o sector de transporte e logística, focada em trabalhadores independentes. É a oportunidade de trazer tecnologia para uma indústria de milhões de dólares, que não sofre disrupção desde de 1970, e ter impacto direto na vida daqueles que fazem com que todo o tipo de produtos chegue a casa ou ao supermercado. A nível pessoal, permite-me continuar a desenvolver a minha carreira em caminhos paralelos, uma parte de gestão de pessoas e uma parte técnica com trabalho hands on.
- Qual foi a decisão mais difícil que alguma vez teve de tomar?
O meu trajeto tinha sido linear desde a licenciatura, pelo que abandonar o Doutoramento foi uma decisão óbvia, mas significava um salto com mais incerteza. O contraponto era a certeza de que seria uma mudança radical o que, pessoalmente, me dá muita energia e motivação. Houve um período prévio de avaliação de risco, e assim que concluí que o risco era aceitável, foi avançar com toda a força.
- Como é que entrou na área profissional em que está agora?
Embora Silicon Valley seja geograficamente grande, é um sítio pequeno e cheio de talento. Por isso, um ponto fundamental para mim foi procurar experiências profissionais que me permitissem crescer tecnicamente e tornassem o meu percurso diferenciável. O facto de haver tantas startups e grandes empresas de tecnologia concentradas na mesma zona geográfica permite que haja uma maior escolha das áreas e tecnologias em que nos podemos focar. Depois, ao longo da carreira estabelecem-se relações duradouras, pelo que amigos e ex-colegas não hesitam em partilhar os problemas interessantes em que estão a trabalhar e, quando surgem as oportunidades de expandir ou construir equipas do zero, a rede de contatos direta é sempre mais forte para abrir portas. No entanto, isso só ajuda no primeiro passo. Fundamentalmente é o conjunto de experiências profissionais que se vai construindo e os problemas em que nos focamos, que nos tornam diferenciáveis neste meio tão competitivo. No meu caso, tentei sempre procurar oportunidades que fossem desafiadoras tecnicamente, e trabalhar em problemas que tivessem um impacto direto na vida quotidiana.
- Que conselhos daria às raparigas que estão a pensar em estudar STEM, particularmente no Técnico?
Que ignorem a estatística da demografia em STEM. É uma área fundamental para tornar Portugal um país competitivo, produtivo e com oportunidades mais abrangentes. É normal que para a maioria das pessoas, não só para as raparigas, seja difícil identificar o fascínio pelas disciplinas de STEM, pois é uma área em que o prémio está no processo, na procura constante por ultrapassar o próximo desafio, e nada disso é imediato. Muitos dos problemas abordados estão em aberto, e há que explorar alguns caminhos até se chegar à solução. Embora a recompensa não seja imediata, o meu conselho é não desistir à primeira, mesmo que pareça difícil ou intimidante. Se há curiosidade em qualquer das disciplinas de STEM é procurar saber o mais possível, investigar currículos, aplicações práticas, opções de carreira, procurar quem tenha seguido um percurso, e experimentar. O Técnico dá as ferramentas base, a motivação e a dedicação constante estão do nosso lado.
- Que conselhos daria aos estudantes do ensino secundário que estão a pensar em estudar STEM, particularmente no Técnico?
Adotem um beginners' mindset, aceitando que vão entrar num meio competitivo, cheio de gente com enorme capacidade, e vai haver sempre mais para aprender. Se estão a considerar estudar STEM no Técnico, certamente já estão entre os melhores da escola secundária. Ao entrarem no Técnico vão sentir-se como um peixe na água, mas num oceano gigante, onde há centenas de outros alunos igualmente capazes ou ainda melhores. Vão haver momentos em que certamente não se vão considerar os melhores dos melhores, que não estão à altura. A primeira reação de muitos é ficar com o ego ferido, frustrados ou intimidados, mas o truque é usar isso a vosso favor. Aproveitem a oportunidade de estar numa comunidade com gente tão capaz, e utilizem todos os momentos com colegas e professores para aprender e continuar a progredir. Pode parecer contra-intuitivo, mas é um dos maiores pontos de crescimento que uma experiência no Técnico vos proporciona.
(imagem original: Técnico Alumni)