Testemunhos: o que dizem os nossos Estudantes Excelentes

Nesta edição da série “Testemunhos” entrevistamos o João Cardoso, vencedor do Prémio de Mérito Axians em Otimização e Algoritmos 2024/2025.

  • Fala-nos um pouco sobre ti e do teu percurso no IST.

Sou o João Cardoso, tenho 23 anos e sou de Coimbra. Cresci numa família onde a matemática e as humanidades sempre coexistiram naturalmente - ambos os meus pais têm formação em matemática, mas nunca descuraram as letras. Nesse aspeto, herdei essa sensibilidade, pelo que sempre tive um pé nas humanidades e outro nas ciências. No curso de LEIC, e depois MEIC, procurei conciliar estas duas vertentes. Tive também a sorte de que o meu percurso coincidisse com os desenvolvimentos recentes na área da Inteligência Artificial, em particular nos modelos de linguagem, o que me permitiu conciliar estas duas facetas de forma mais natural ainda, tanto nas escolhas letivas, como no meu tempo como assistente convidado na cadeira de Língua Natural, como no trabalho que estou a desenvolver para a tese.

  • O que significou pessoalmente ganhar este prémio?

Foi imensamente gratificante ganhar este prémio, enquanto reconhecimento do trabalho que exigiu, tanto no decurso da cadeira em si, como durante a preparação do pitch. Tive que revisitar os conteúdos da cadeira e abordá-los de forma mais aprofundada, o que também me deu a oportunidade de lhes dar um cunho pessoal. Acima de tudo, senti-me recompensado pela minha dedicação e o meu interesse, mais do que pela prestação na cadeira.

  • Por que é que prémios como este são importantes?

Como qualquer aluno do Técnico saberá, o ritmo das aulas é bastante acelerado. Por esse motivo, há por vezes pouco incentivo para explorar os assuntos mais a fundo e procurar conhecer as suas ramificações noutras áreas ou as suas aplicações no mundo real. Um prémio como este traz precisamente esse incentivo que tanto falta.

Não posso deixar de mencionar também a aproximação do Técnico a empresas como a Axians, que promove uma melhor integração entre o mundo académico e o empresarial, e que aproxima os estudantes das realidades profissionais para as quais o Técnico os prepara.

  • Na tua opinião (além de prémios ;)), o que pode e deve ser feito para atrair mais alunos e alunas para Engenharia Informática e de Computadores no Técnico?

Acho que a perceção que o público em geral tem da Engenharia Informática é a de que se resume a "programação", com todas as conotações que daí advém. Para a minha mãe, significa que provavelmente saberei o que se passa de errado com o telemóvel dela. Para outros fora da área, significa que passo o dia a olhar para símbolos misteriosos, coloridos e talvez um pouco intimidantes num ecrã.

Esta perceção, que oscila entre "aptidão para a tecnologia" e algo mais místico, parece-me pouco favorecedora. Para uns, "programação" é algo que se aprende em qualquer curso de engenharia, e que não justifica a candidatura a um curso especializado de Informática. Para outros, é intimidante por sugerir que saber "programar" - no sentido de falar a linguagem mística dos computadores - é um requisito para entrar no curso. Eu próprio partilhei dessa insegurança no primeiro ano de licenciatura, até me aperceber que o objetivo do curso não é só saber programar, mas sobretudo adquirir um certo conjunto de ferramentas conceptuais para lidar com problemas complexos.

Sendo assim, acho importante acima de tudo mostrar a diversidade de percursos que existem dentro da Engenharia Informática, especialmente ao nível do Mestrado, em que o Técnico tem imensa oferta. Os meus amigos do curso estão de momento a trabalhar em teses tão diferentes da minha que, do meu ponto de vista, também eles passam o dia a olhar para símbolos misteriosos. E, dado que a escolha de curso acarreta sempre uma certa ansiedade, é importante salientar que, no global, Engenharia Informática é dos poucos cursos que abre mais portas do que fecha.

  • Tens algum conselho para futuros alunos e alunas de Engenharia Informática e de Computadores do Técnico?

O Técnico é muito mais do que um espaço em que ocorrem aulas e exames. Há atividades extracurriculares para todos os gostos, que permitem conhecer novas pessoas e adquirir outro tipo de competências. Hoje em dia há uma expetativa de que cada um seja "empreendedor" de si próprio, que se destaque pela sua iniciativa. Isto pode ser sentido como uma pressão indevida que é colocada sobre nós, mas acho que as diversas atividades estudantis permitem aliar esta diferenciação a um desenvolvimento autêntico dos nossos interesses. É claro que estas atividades ocupam tempo, mas diria que o tempo livre no Técnico é como espaço no estômago para a sobremesa quando já se ficou cheio com o resto da refeição - de alguma forma sobra sempre que chegue.

(imagem original: João Cardoso)

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