Bytes de Brilho: alunas excepcionais em Engenharia e Ciência de Dados

Nesta edição da Bytes de Brilho conhecemos um pouco melhor a Liane Carolina, distinguida com uma bolsa Feedzai Women in Science.
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Olá,
O meu nome é Liane Carolina. Sou licenciada em Engenharia Biomédica e estou no último ano do mestrado em Engenharia e Ciência de Dados no Técnico. Sempre sonhei em seguir uma carreira que unisse tecnologia e impacto social. Hoje, pretendo usar Inteligência Artificial para transformar a saúde, tornando-a mais rápida, eficaz, eficiente e específica. Trabalho atualmente na Fundação Champalimaud, na Digital Surgery Lab, onde integro uma equipa que usa IA e realidade aumentada para melhorar o diagnóstico e a cirurgia do cancro da mama.
A bolsa da Feedzai deu força e visibilidade ao meu sonho. Senti-me ouvida, reconhecida e representada. Venho de origens humildes, e chegar até aqui exigiu muitos sacrifícios. Saber que fui uma das três mulheres escolhidas foi um daqueles momentos de realização pessoal que vemos nos filmes. Estou profundamente grata à Feedzai por acreditar no meu potencial entre tantas mulheres talentosas e inspiradoras.
No meu curso, apenas 20% dos estudantes são mulheres. Pensamos que são apenas números. Acredito que seja mais que isso e sinto-o todos os dias. Há imenso talento feminino em Portugal, mas ainda são poucas as que escolhem seguir engenharia, e, para as que cá estamos, podemos dizer que não é fácil.
Apesar dos estereótipos estarem a cair pouco a pouco, ainda existem. Muitas vezes senti que precisava de ser extremamente assertiva para ser levada a sério, muitas vezes pelos meus pares, mas não só. Neste momento, aspiro trabalhar numa área dominada por homens, e é precisamente por isso que bolsas como esta são essenciais. Muitas vezes, temos de provar mais, trabalhar mais e ainda corresponder a expectativas sociais desiguais, enquanto que sofremos, muitas vezes, de desigualdades salariais que, embora tenham diminuído, ainda persistem nos dias de hoje.
Na ilha da Madeira, vestem-se as capas em dezembro do nosso 12º ano. Uma cerimónia emblemática, em que levamos ao peito uma fita da cor do curso que queremos seguir. Escolhi laranja, a cor da engenharia. Lembro-me de uma colega olhar para mim, com desdém, e perguntar se eu queria trabalhar nas obras. Esta história mostra como por vezes a falta de informação ainda afasta muitas raparigas da ciência. Creio que precisamos de mostrar desde cedo, e fora das muralhas das grandes cidades, o que realmente fazemos em engenharia e investigação.
Quando estive a escolher o curso, disseram-me apenas para seguir a lista da DGES. Gostava de ter sabido mais cedo o que realmente se faz no Técnico, desde as mãos robóticas, aos rockets que lançamos ao céu ou aos barcos solares feitos pelos estudantes. Eu não tinha os meios financeiros para vir a Lisboa. Quando cheguei, foi aterrador, era nova e nunca tinha visto um metro ou um comboio na vida. Acredito que muitos talentos em Portugal ficam escondidos por causa disso, da distância, da falta de informação e das poucas ajudas para quem tem de se deslocar. É por isso que oportunidades como a que a Feedzai me deu fazem tanta diferença.
O meu conselho às futuras alunas é simples: por mais difícil e assustador que pareça, vale a pena e um dia a situação ficará melhor. E se for a tua primeira vez a chegar ao Técnico de metro, sai no Saldanha, não na Alameda.
